por André de Virgiliis
O sete de setembro de 2011 tinha tudo pra ser marcante, e foi. Não porque Dilma era a primeira mulher à frente do tradicional desfile, mas pela manifestação que levou cerca de 25 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios. Sob o título de Marcha Contra a Corrupção, os milhares de brasileiros pintaram seus rostos, vestiram seus narizes de palhaço e levaram faixas e cartazes. Tudo para protestar contra a absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) na semana passada, o voto secreto no Congresso, os recentes escândalos de corrupção no governo e a manutenção do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no comando do legislativo. Nem Ricardo Teixeira, presidente da CBF desde 1989, foi esquecido e teve sua destituição do cargo pedida pelos manifestantes. Para cobrar a aplicação imediada da Lei da Ficha Limpa – que ainda depende de julgamentos no STF, uma faixa trazia a inscrição “Kadafi, não importa o seu passado, no Brasil você pode ser deputado”.
A exemplo do que aconteceu esse ano na Espanha e no Chile, a Marcha e outras manifestações realizadas por todo o país no Dia da Pátria foram convocadas de forma espontânea pela internet, mais especificamente, pelas redes sociais. Facebook, Orkut, Twitter e listas de emails foram os principais veículos utilizados na mobilização dos que decidiram lutar por uma democracia mais justa na última quarta-feira. No entanto, apesar do resultado positivo, mais pessoas eram esperadas. Na capital paulista, por exemplo, 500 jovens se reuniram no vão livre do Masp quando 21 mil haviam confirmado presença no evento pelo Facebook.
Mas serviu como um pontapé inicial e mostrou que os internautas brasileiros também estão começando a entender a força desse veículo. O movimento não foi tão grande quanto os que ganharam as manchetes internacionais na Espanha e Chile mas teve força suficiente para incomodar Dilma e os 32 ministros que estiveram presentes no evento. Por mais que algumas autoridades tenham sido rápidas em negar qualquer tipo de constrangimento ao governo, a montagem de um tapume de dois metros de altura isolando o desfile oficial dos manifestantes não deixou dúvidas.
E assim como aconteceu entre os vizinhos chilenos e os espanhóis, o movimento não aceitou bandeiras, não teve líderes nem ícones, apenas pessoas. Alguns representantes do PSOL quiseram levar adereços do partido mas foram impedidos, o senador Álvaro Dias (PMN-DF) também pensou em se unir ao grupo mas, advertido, desistiu da ideia. É uma atitude que mostra a intenção de manter o poder sem dono, sem cara. A falta de confiança é total e o povo parece acreditar que a única forma de se conquistar alguma mudança é por conta própria, espontaneamente e coletivamente.
Já mostramos que sabemos o caminho. Será que vem novidade por aí?